sexta-feira, 2 de novembro de 2012

OS CANDIDATOS



OS CANDIDATOS



David Arrais

     Especialista em dirigir comédias baseadas em estereótipos, Jay Roach, que conquistou os fãs de comédia rasgada com “Austin Powers”, e depois se perdeu um pouco com o segundo episódio da franquia “Entrando Numa Fria”, nos apresenta essa divertida visão das campanhas políticas para o congresso americano.

     Não havia época melhor para esse filme estrear no Brasil. Will Ferrel e Zach Galifianakis personificam bem todos os estereótipos dos políticos da atualidade: Demagogia, populismo, discursos decorados e imagem e propaganda acima das propostas. Curiosamente, algo que vem acontecendo aqui em Fortaleza, na disputa do 2º. Turno.

     Cam Brady (Will Ferrel) é o candidato democrata a deputado por uma pequena cidade da Carolina do Norte. Nas últimas quatro eleições, Brady não teve concorrente. No entanto, os irmãos Motch (John Lithgow e Dan Akroyd), grandes especialistas em marketing político, precisam de um deputado em seus bolsos para aprovar um punhado de leis e implantar fábricas chinesas em território americano.

     O candidato escolhido pelos irmãos é Marty Huggins (Zach Galifianakis), filho de um experiente figurão local. Porém, ele está longe de ser um candidato ideal. Diante disso, sua vida sofre uma mudança radical, para que os marqueteiros do partido, liderados por Tim Wattley (Dylan McDermott) possam transformá-lo em alguém elegível.

     As sequências cômicas são sensacionais. Desde o prólogo, com as campanhas de Cam Brady, que sempre repete o mesmo bordão (espinha dorsal da América) para todo tipo de público, até a sequência em que Marty avisa a sua família que será candidato, arrancando inspiradas confissões de sua família.

     Will Ferrel nos entrega mais um personagem marcante, como Ron Burgundy e Ricky Bobby. Fugindo um pouco (bem pouco mesmo) de seus exageros típicos, ele constrói um cAm Brady seguro, autoconfiante, arrogante e desbocado. É curioso como em momento algum ele parece perceber que o único motivo pelo qual está em seu quarto mandato, é pura e simplesmente a falta de concorrentes.

     Ao mesmo tempo, Cam mostra que sabe jogar o jogo, sempre mantendo as aparências: corte de cabelo e barba sempre impecáveis, sorriso estampado uma família tipicamente perfeita, além de saber usar todas as técnicas necessárias nos debates.

     Já Galifianakis se mostra um adversário a altura no confronto com Will Ferrel. Seu marty Huggins nos faz esquecer completamente seu Alan de Se Beber, Não Case.  Com um jeito afetadíssimo, ele parece uma criança grande. Ingênuo, inseguro, sempre baixando a cabeça para os caprichos do pai. Ao mesmo tempo, um pai de família carinhoso e marido devotado. É curioso, e ao mesmo tempo, lamentável, ver como ele é manipulado facilmente por todos ao seu redor. Até mesmo por seu adversário, nos primeiros debates.
            
     Dylan McDermott interpreta o marqueteiro político por excelência. Inescrupuloso, capaz de tudo para construir a imagem perfeita para Marty, inclusive mudar seus animais de estimação, a mobília da casa e a aparência de sua família.
      
     Um dos pontos altos da projeção é a aposta no politicamente incorreto. Crianças falando palavrões, frases preconceituosas e xenofóbicas, pancadas em bebês. O ponto alto é a agressão a um importante ator de um filme ganhador de um Oscar recente. Também são acertadas as inserções de imagens de analistas políticos de telejornais locais, mostrando que nem sempre são noticiados os fatos verdadeiramente relevantes.

     Diante de tudo isso, o filme consegue fazer uma crítica eficiente do sistema eleitoral vigente, não só nos Estados Unidos, além de sua ligação com a imprensa e a mídia de um modo geral. 

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