domingo, 18 de novembro de 2012

ARGO


ARGO




David Arrais

         Argo é a terceira incursão de Ben Affleck como diretor. Depois de colecionar boas críticas com Atração Perigosa (valeu tradutores!) e Medo da Verdade (valeu de novo!), ele, ao lado do roteirista Chris Terrio, sai de Boston, e mergulha na recriação de um fato histórico dos anos 70, a Revolução Islâmica no Irã, indo mais especificamente a invasão da Embaixada Americana em Teerã no final de 1979.
Um interessante prólogo, com o uso de páginas de quadrinhos mescladas a imagens reais, conta a história do Irã, desde a Pérsia, até a chegada ao poder do aiatolá Khomeini, passando pela chegada ao poder do Primeiro Ministro Mohammed Mossadegh e a nacionalização de empresas de petróleo e o asilo político oferecido ao xá Mohammad Reza Pahlevi pelo governo americano. Em retaliação, a embaixada americana é atacada por manifestantes iranianos, que fazem dezenas de reféns. Porém, seis funcionários conseguiram refúgio na embaixada canadense, à espera de uma atitude de seu governo.

Diante disso, o agente Tony Mendez (Ben Affleck, com uma atuação competentíssima, fugindo do estigma de galã) leva ao seu superior Jack O’Donnell (Bryan Cranston, fantástico, finalmente interpretando um personagem a altura de seu talento) a ideia de simular a produção de um filme de ficção científica, que usaria locações naquele país, para poder enviar agentes, disfarçados de canadenses (o Canadá possuía boas relações diplomáticas com o Irã), para conseguir levá-los de volta à América.

A partir da aceitação desse plano pelas agências, depois de alguma resistência, tem início o processo de produção do Argo. Tony procura por John Chambers (John Goodman), o gênio da maquiagem responsável por, entre outros, O Planeta dos Macacos, que o apresenta ao desbocado produtor Lester Siegel (Alan Arkin, também incrível) para dar credibilidade ao plano. Também são feitas todas as fases de pré-produção, como escolha do elenco, storyboards, testes de figurino, lançamento oficial, etc.

Todos os seis reféns também têm atuação digna de nota. A química entre eles é perfeita, sempre nos fazendo crer que aquelas pessoas realmente estão há semanas sem por os pés pra fora de casa, constantemente assustados, até o momento em que são informados de como ocorrerá o resgate. Neste momento, o filme ganha contornos de um heist movie (filmes “de assalto”), onde cada um tem seu papel definido e começa a se preparar para a ação.

A recriação de época é eficiente, com os figurinos, penteados, além da competência da direção de arte, com o uso de telefones, letreiros, carros, bebidas e demais elementos de cena que ajudam a criar a atmosfera setentista da história. Essa recriação acontece desde o início da projeção, com o uso do logo da Warner daquele período no início da projeção.

A direção de Affleck, juntamente com a montagem, é bastante competente e segura, sempre conseguindo criar excelentes momentos de tensão, como na passagem pelo mercado de Teerã ou as cenas no aeroporto.

Também é interessante a forma como são retratadas as ações dos iranianos, como as torturas psicológicas, o uso de crianças no trabalho e a incrível veracidade conferida à sequência de invasão da embaixada americana.

O filme também faz uso de metalinguagem em alguns pontos, como quando informações são “datilografadas” na tela, e o som das teclas lembram tiros de um pelotão de fuzilamento, ou quando alguém avisa para Tony: “Ninguém vira diretor da noite para o dia”.

Apesar de sempre tentar se manter imparcial, em termos políticos, sem querer mostrar mocinhos ou bandidos, o roteiro falha em alguns pontos, como na sequência em que os soldados iranianos ficam maravilhados como crianças ao serem presenteados com os storyboards de Argo.

Infelizmente, na sequência final, a segurança de Affleck parece ter sido um pouco abalada, pois chega a incomodar o uso de fotos da época ao lado de imagens vistas ao longo do filme, como querendo nos mostrar que o trabalho foi realmente bem feito. Desnecessário, pois, acabamos de passar duas horas grudados nas cadeiras, como se estivéssemos assistindo a todos aqueles fatos ao vivo pela TV.  

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