ARGO
David Arrais
Argo é a terceira incursão de Ben
Affleck como diretor. Depois de colecionar boas críticas com Atração Perigosa (valeu tradutores!) e Medo da Verdade (valeu de novo!), ele,
ao lado do roteirista Chris Terrio, sai de Boston, e mergulha na recriação de
um fato histórico dos anos 70, a Revolução Islâmica no Irã, indo mais
especificamente a invasão da Embaixada Americana em Teerã no final de 1979.
Um interessante
prólogo, com o uso de páginas de quadrinhos mescladas a imagens reais, conta a história
do Irã, desde a Pérsia, até a chegada ao poder do aiatolá Khomeini, passando
pela chegada ao poder do Primeiro Ministro Mohammed Mossadegh e a
nacionalização de empresas de petróleo e o asilo político oferecido ao xá
Mohammad Reza Pahlevi pelo governo americano. Em retaliação, a embaixada
americana é atacada por manifestantes iranianos, que fazem dezenas de reféns.
Porém, seis funcionários conseguiram refúgio na embaixada canadense, à espera
de uma atitude de seu governo.
Diante disso, o
agente Tony Mendez (Ben Affleck, com uma atuação competentíssima, fugindo do
estigma de galã) leva ao seu superior Jack O’Donnell (Bryan Cranston,
fantástico, finalmente interpretando um personagem a altura de seu talento) a ideia
de simular a produção de um filme de ficção científica, que usaria locações
naquele país, para poder enviar agentes, disfarçados de canadenses (o Canadá
possuía boas relações diplomáticas com o Irã), para conseguir levá-los de volta
à América.
A partir da
aceitação desse plano pelas agências, depois de alguma resistência, tem início
o processo de produção do Argo. Tony
procura por John Chambers (John Goodman), o gênio da maquiagem responsável por,
entre outros, O Planeta dos Macacos,
que o apresenta ao desbocado produtor Lester Siegel (Alan Arkin, também incrível)
para dar credibilidade ao plano. Também são feitas todas as fases de
pré-produção, como escolha do elenco, storyboards, testes de figurino,
lançamento oficial, etc.
Todos os seis
reféns também têm atuação digna de nota. A química entre eles é perfeita,
sempre nos fazendo crer que aquelas pessoas realmente estão há semanas sem por
os pés pra fora de casa, constantemente assustados, até o momento em que são
informados de como ocorrerá o resgate. Neste momento, o filme ganha contornos
de um heist movie (filmes “de assalto”),
onde cada um tem seu papel definido e começa a se preparar para a ação.
A recriação de
época é eficiente, com os figurinos, penteados, além da competência da direção de
arte, com o uso de telefones, letreiros, carros, bebidas e demais elementos de
cena que ajudam a criar a atmosfera setentista da história. Essa recriação
acontece desde o início da projeção, com o uso do logo da Warner daquele
período no início da projeção.
A direção de
Affleck, juntamente com a montagem, é bastante competente e segura, sempre
conseguindo criar excelentes momentos de tensão, como na passagem pelo mercado
de Teerã ou as cenas no aeroporto.
Também é
interessante a forma como são retratadas as ações dos iranianos, como as
torturas psicológicas, o uso de crianças no trabalho e a incrível veracidade conferida
à sequência de invasão da embaixada americana.
O filme também
faz uso de metalinguagem em alguns pontos, como quando informações são
“datilografadas” na tela, e o som das teclas lembram tiros de um pelotão de
fuzilamento, ou quando alguém avisa para Tony: “Ninguém vira diretor da noite
para o dia”.
Apesar de
sempre tentar se manter imparcial, em termos políticos, sem querer mostrar
mocinhos ou bandidos, o roteiro falha em alguns pontos, como na sequência em
que os soldados iranianos ficam maravilhados como crianças ao serem
presenteados com os storyboards de Argo.
Infelizmente,
na sequência final, a segurança de Affleck parece ter sido um pouco abalada,
pois chega a incomodar o uso de fotos da época ao lado de imagens vistas ao
longo do filme, como querendo nos mostrar que o trabalho foi realmente bem
feito. Desnecessário, pois, acabamos de passar duas horas grudados nas cadeiras,
como se estivéssemos assistindo a todos aqueles fatos ao vivo pela TV.
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