segunda-feira, 22 de junho de 2009

A zona da Seleção

Belo texto escrito por Sérgio Xavier, diretor de redação da Revista Placar, sobre a Seleção Brasileira.



Cobertura de Seleção Brasileira é sempre uma zona. Mais jornalistas do que o razoável, menos jogadores disponíveis do que o necessário, menos assuntos do que todos gostariam. Sempre foi assim e na África do Sul não é diferente.

Estou na África, acompanhando a Copa das Confederações. Meu assunto é zona, não a do primeiro parágrafo nem aquela que o mundo do futebol tanto aprecia.

Falarei de uma expressão cafajeste do capitalismo chamada "zona de conforto". Quando estão numa fase agradável, trabalhadores produziriam menos do que quem está incomodado pela situação atual. Ou seja, a infelicidade é que faria as pessoas renderem mais.

Eu me recuso a adotar esse raciocínio como lei universal. Mas admito que em alguns casos a "zona de desconforto" pode ser benéfica. É o caso da Seleção Brasileira. Independentemente do que possa acontecer na Copa das Confederações (o torneio vale muito pouco), Dunga já achou um time. O presente divino que todo o técnico pede faltando um ano para o início da Copa do Mundo. Quer você goste ou não, Dunga encontrou 11 titulares: Júlio César, Maicon, Lúcio, Juan e Kléber; Gilberto Silva, Felipe Melo, Elano e Kaká; Robinho e Luís Fabiano.

Também não é o meu time, ainda que fizesse apenas umas duas trocas (Fábio Aurélio e Nilmar no lugar de Robinho). O que importa aqui não são as preferências pessoais e sim o fato do técnico ter achado uma solução que tem funcionado bem de seis meses para cá. A novidade, quem diria, não é um craque, nem mesmo um jogador excelente. Felipe Melo é apenas bom, só que muito time precisa de uma peça comum para se acertar. No meio de circuitos eletrônicos complexos, em engenhocas às vezes é um parafuso que resolve a parada. Felipe Melo equilibrou o time.

Mais do que a entrada do volante da Fiorentina, Dunga está se beneficiando da tal "zona de desconforto". Que diabos significa isso? Basicamente a certeza dos titulares que não podem dormir no ponto porque os reservas estão despertos. Os titulares sabem que Dunga pode muito bem fazer trocas, ninguém está confortável. Vejamos:

Na lateral direita, o melhor da Europa (Maicon) sabe da grande fase que passa o melhor da Espanha (Daniel Alves). Na zaga, Lúcio até está numa zona mais confortável, só que ele tem uma inquietação natural que evita acomodação. Juan olha para o lado e vê um Miranda em grande fase. Na esquerda, Kléber tem a certeza de que é o menos titular de toda a Seleção. André Santos? Marcelo? E se um dia Dunga resolve experimentar Fábio Aurélio ali? Na defesa, até Júlio César sabe que precisa ficar esperto mesmo sendo o melhor do mundo. A safra brasileira é boa, goleiro depende muito de treinamento e dedicação.

Os volantes Gilberto Silva e Felipe Melo são operários que precisam carregar tijolos sem parar. Do contrário, Josué, Kléberson, Ânderson e Lucas passam por cima. Elano é um dos mais titulares na cabeça de Dunga. Só que agora está duplamente ameaçado. Por Ramires, que entrou e encantou os próprios jogadores da Seleção com seu jeito queniano de correr o campo todo sem parar. E por Daniel Alves, que não encontra espaço na lateral direita e já exerceu na própria Seleção a função de meia. Luís Fabiano e Robinho não têm sossego. Menos por Nilmar e Pato, ambos verdes para assumirem a titularidade. Mais por Ronaldo, ameaça real na cabeça deles. E se o gordo resolver perder peso e decidir que quer mais uma Copa? Se rechonchudo ele já consegue resolver determinados jogos, mais em forma se torna letal.

Faltou um. Kaká. Este não conta. É o craque do time, mas um craque diferente. Ao contrário de colegas e ex-colegas como Romário e os Ronaldos, Kaká está eternamente desconfortável. Quer sempre mais. Um título, uma taça, um prêmio pessoal, mais gols, é quase doentio na perseguição de velhos e novos objetivos.

Se Dunga conseguir segurar mais um aninho de desconforto geral, o Brasil chega na Copa como há muito tempo não entra. Talento, quase sempre abunda. O que geralmente tem faltado na Seleção Brasileira é brilho nos olhos. Um brilho que tem sido visto em jogos e treinos mais por causa da concorrência do que por qualquer outro fator.

Um comentário:

  1. Perfeito o comentário. Amigo, notei uma reestruturação do blog. Aquele sudoku tá comédia... hehe. Tu ficou lá embaixo. Dá uma ajeitada nesse leiaute.

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