quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Looper

LOOPER






David Arrais 

          Escrito e dirigido por Rian Johnson, Looper conta uma história ambientada em 2044, quando grande parte da população possui poderes de telecinese e a viagem no tempo, é algo real. Porém, além de ilegal, ela só será realidade no ano de 2074. Nesta época, mafiosos, liderados pelo misterioso Rainmaker, utilizam a viagem para se livrar de inimigos, enviando-os para o passado, onde assassinos (Loopers) estão à espera, em locais pré-determinados, para executá-lo. Para que o plano seja perfeito, depois de 30 anos o próprio looper é enviado ao passado para ser executado por ele mesmo quando jovem.

          O conceito de viagem no tempo, por conta de seus paradoxos, é sempre complexo. Por conta disso, toda a trama é explicada em um pequeno prólogo narrado por Joe (Joseph Gordon-Levitt). Pouco depois somos apresentados a Seth (Paul Dano), outro looper, que também é o melhor amigo de Joe. Tudo começa a dar errado quando a versão do futuro de Joe (Bruce Willis) decide não cumprir o combinado, além de fugir do Joe jovem, planeja modificar o futuro alterando momentos fundamentais no presente.

          Depois que passam a conviver, o velho Joe explica suas motivações ao jovem, que, tenta, em vão, impedir que ele fuja para tentar cumprir seus objetivos. Depois disso, ao ser perseguido pelos demais loopers, o jovem acaba indo parar na fazenda de Sara (Emily Blunt), que vive com seu filho Cid (Pierce Gagnon).

          Pela complexidade do tema, o roteiro acaba tendo que apelar para algumas passagens expositivas, como as consequências de um looper desistir do contrato, ou de haver dois loopers de diferentes eras coexistindo, como em uma explicação bastante razoável em um diálogo entre Abe (Jeff Daniels) e Kid Blue (NoahSegan) “Não tente entender as consequências. Vai fritar seus miolos!”

          O filme conta com sequências de ação excepcionais, com efeitos visuais sempre bem realizados. Merecem destaque a cena no interior da casa de Sara, no terceiro ato, a invasão do esconderijo dos mafiosos e a sequência final, na plantação de cana.

          O roteiro também conta com diálogos preciosos, como quando um personagem avisa “Mude para a China. Confie em mim, eu vim do futuro”, ou toda a cena entre o velho e jovem Joe na lanchonete. Infelizmente ele cai um pouco ao explorar a característica singular de Cid, especialmente no terceiro ato, fugindo um pouco do tema principal.

          As atuações são bastante convincentes. Joe é um personagem complexo, consciente que a vida que leva tem um tempo pré-definido de duração, que acaba tornando-o amargo, frio, vicidado em drogas, sempre evitando maior proximidade com qualquer pessoa, exceto a prostituta Suzie (Piper Perabo), porém todas as suas investidas são em vão.

          Bruce Willis e Joseph Gordon-Levitt funcionam muito bem juntos. Willis abusa, no bom sentido, de todos os trejeitos que lhe transformaram em astro de ação, protagonizando também um grande momento, ao ficar profundamente afetado por um ato terrível que acaba de cometer.

          Já Levitt faz uma excelente interpretação de Bruce Willis jovem, com todos os seus maneirismos, como a voz rouca e o sorriso de canto de boca, auxiliado pelos efeitos visuais e de maquiagem que colaboraram nas semelhanças físicas, como o nariz, olhos e boca.

          A reaparição de Jeff Daniels em blockbusters é uma grata surpresa, como o enviado do Rainmaker para “manter a ordem” no tempo presente. Noah Segan interpreta um looper incompetente, sempre tentando agradar Abe acima de qualquer outra coisa. Garret Dilahunt tem uma participação rápida, porém em uma passagem fundamental. Qing Xu também aparece pouco, como a esposa de Joe no futuro.

          No entanto, Emily Blunt é quem mais merece destaque. Sara é uma mulher forte, decidida, e ao mesmo tempo frágil e solitária, o que lhe confere grande profundidade. Vivendo uma convivência conflituosa com seu filho Cid, é perceptível a sua confusão por não saber lidar com os problemas dele.

          Tecnicamente o filme é impecável. A construção das cidades no futuro é impressionante, mostrando um possível (ou provável) destino das cidades americanas diante da deterioração da sociedade e de seus valores, fazendo um contraponto com o desenvolvimento exibido em Xangai.

          A direção de arte chama a atenção também em ambientes internos como o apartamento do jovem Joe, ou a casa chinesa que ele possui no futuro. Outro aspecto em que ela é bastante eficaz é em relação aos equipamentos, como as armas e veículos, em especial a moto voadora.

          A montagem também tem papel fundamental, sempre mantendo o ritmo alto, sem tornar mais confuso que o necessário, ao mesmo tempo em que “brinca” em alguns momentos com as alterações causadas pelas alterações no espaço-tempo.

          É sempre gratificante quando um filme que tinha tudo para ser um blockbuster de ação nos surpreende com um ótimo roteiro e grandes atuações. E Looper é mais uma prova de que é possível unir esses elementos e realizar uma obra de entretenimento de alta qualidade.

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