David Arrais
Em 1912 nascia em Exú, pequena cidade no interior de Pernambuco, aquele que se tornaria o maior nome da música popular brasileira. Seu nome era Luiz Gonzaga do Nascimento. Filho de Januário, sanfoneiro que tocava numa sanfona de apenas oito baixos. Eis que 100 anos depois, Breno Silveira, depois de emocionar o público com 2 Filhos de Francisco acerta mais uma vez, mostrando coragem e talento, ao contar a história desse homem.
Desenvolvido
a partir de uma gravação feita por Gonzaguinha no reencontro com seu pai, o
roteiro desde o início nos mostra a relação conflituosa entre Luiz Gonzaga
(Adélio Lima) e Gonzaguinha (Júlio Andrade), com este último mostrando toda a
sua mágoa do pai, figura sempre ausente durante seu crescimento, deixando que
um casal de amigos, Henrique Xavier (Luciano Quirino) e Dina (Sílvia Buarque) o
criassem.
Sempre
se utilizando de flashbacks e flashforwards, somos levados à sua adolescência
(interpretado por Land Vieira), quando conheceu Nasinha (Cecília Dassi), o
grande amor de sua vida ao pé de um Juazeiro, passando por sua vida adulta
(Nivaldo Expedito de Carvalho) conturbada, o serviço militar, casamentos,
filhos, longuíssimas turnês por grandes cidades, e, quando na decadência, pelo
interior do Brasil.
O filme
mostra várias pequenas histórias de Gonzaga, como sua primeira aparição em
público, um conflito com o coronel e pai de Nasinha, a forma que começou a
tocar no Rio de Janeiro, sua passagem pelo Exército e a forma como conseguia
escapar das batalhas numa época cheia de revoluções, como conheceu Odaleia
(Nanda Costa), mãe biológica de Gonzaguinha, as aparições no programa de rádio
de Ary Barroso, um inusitado recrutamento de músicos e o acidente que lhe deu a
cicatriz que leva no rosto. Tudo isso sem soar episódico, perfeitamente bem
costurado, sem perder o ritmo.
As reconstruções de época (o
filme passa por várias décadas) são impecáveis, como ao mostrar o
desenvolvimento do Morro de São Carlos, onde Gonzaguinha cresceu com seus pais
de criação, as várias casas de Gonzagão no Rio de Janeiro até a casa de
Januário em Exú, passando pelo estúdio de Ary Barroso e a feira popular em
Pernambuco.
No pequeno apartamento da Ilha do
Governador, em que o músico vive agora com Helena, sua segunda esposa e com o filho mais famoso, é onde os
conflitos entre eles tornam-se mais fortes, pois Gonzaguinha, além de estudante
de economia tornou-se entusiasta dos movimentos revolucionários, como o Black
Power/Panteras Negras e o comunismo, como mostram os livros e pôsteres nas paredes
de seu minúsculo quarto.
Outros temas também são tratados, como a suspeita de esterilidade de Luiz Gonzaga, o relacionamento turbulento de Helena, sua segunda esposa e Gonzaguinha. Infelizmente, sua faceta de mulherengo não é mostrada abertamente, sendo apenas citada por uma publicação ao longo do filme, sem receber o aprofundamento que merecia.
Outros temas também são tratados, como a suspeita de esterilidade de Luiz Gonzaga, o relacionamento turbulento de Helena, sua segunda esposa e Gonzaguinha. Infelizmente, sua faceta de mulherengo não é mostrada abertamente, sendo apenas citada por uma publicação ao longo do filme, sem receber o aprofundamento que merecia.
O elenco funciona perfeitamente.
Cláudio Jaborandy tem uma atuação brilhante como Januário ao lado de Santana (Cyria
Coentro). Cecília Dassi encanta como a jovem Nasinha e João Miguel mostra
talento na curta cena que marca o início da carreira de Gonzagão.
No entanto, toda a força do filme
reside em seus protagonistas. Nivaldo Expedito de Carvalho é o único intérprete
de Luiz Gonzaga que deixa um pouco a desejar, com momentos um pouco exagerados,
passando um pouco da conta. Mas sem jamais comprometer. Ainda mais levando-se em conta que se trata de um músico, não de um ator profissional. Land Vieira consegue
equilibrar momentos tristes e tensos com alívios cômicos na mesma
proporção.
Já Adélio Lima e Júlio Andrade dão
um show à parte. A química entre os atores é perfeita. E a semelhança física de
Júio Andrade com Gonzaguinha chega a ser assustadora. O modo como proferem suas
falas, seja com mágoa, ternura, arrependimento, rancor, ou em sua redenção, é extremamente
convincente. Os maneirismos, intonação da voz, vocabulário, são todos
realizados com maestria. Realmente nos convencem que se trata de um reencontro
carregado de emoções entre pai e filho a muito separados.
A conclusão não poderia ser
diferente, com a introdução do show “A vida do viajante”, usando imagens reais
da primeira vez que os dois artistas sobem juntos ao palco. A minha maior
preocupação quando soube que haveria um filme sobre Luiz Gonzaga era o risco de
um endeusamento que mascarasse o ser humano que ele era. Alguém que, apesar de
um grande artista, apenas humano, e cheio de falhas como todos nós. Felizmente
isso não aconteceu.
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