segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Intocáveis

INTOCÁVES



David Arrais

                É sempre perigoso assistir a um filme depois de muito tempo da sua estreia. Eu não consigo deixar de criar expectativas, boas ou ruins, dependendo dos rumores. O pior é quando as boas expectativas não são alcançadas, mesmo com um bom resultado final, como aconteceu em Intocáveis.

                Escrito e dirigido por Olivier Nakache e Eric Toledano, Intocáveis conta a história de Phillipe (François Cluzet), um milionário francês que ficou tetraplégico depois de um acidente de parapente, e Driss (Omar Sy), um jovem negro, descendente de africanos, que, se torna seu acompanhante/enfermeiro.

                Cluzet e Sy mostram uma química perfeita, criando uma dinâmica interessante entre os protagonistas. A amizade entre eles é contruída gradualmente, de forma orgânica, sem apelar para melodramas, que não caberiam na atmosfera do longa. Infelizmente, a construção dessa amizade acaba sendo prejudicada pelo início da projeção, pois ao fim da primeira cena (um pequeno flash-foward com uma inusitada travessia de carro pelas ruas de Paris), já sabemos da cumplicidade que existe entre os dois, então, o filme parece nos contar uma história que já sabemos como termina.

                A história é recheada de cenas tocantes, como o aniversário de Philipe, em que Driss promove um show de dança à parte, ou o seu cuidado, na cena em que oferece um remédio “pouco ortodoxo” para aliviar a dor do amigo ou ao se recusar a levá-lo no porta-malas de uma mini-van, “como uma mala”.

E mesmo não se tratando de uma comédia, existem ainda cenas divertidíssimas, como a já citada cena inicial, o momento emq eu Driss “testa” a sensibilidade do chefe, ou as piadas politicamente incorretas que eles trocam durante todo o longa, como “Onde você encontra um tetraplégico? – No mesmo lugar onde deixou”.  

Apesar de, no modo geral, tratar-se de uma obra bem realizada, o roteiro possui alguns problemas, como focar exclusivamente em Driss e Phillipe, deixando de lado alguns personagens potencialmente interessantes, como a mãe de Driss, ou a governanta ou a secretária de Phillipe. E também ao ignorar solenemente personagens que nunca dizem a que vieram, como a filha de Phillipe e seu namorado.

          Desde o início a Fotografia trabalha acertadamente com a Direção de Arte para ilustrar a diferença que existe nos mundos dos protagonistas. A vida de Driss é sempre mostrada com cores frias, escuras, ambientes claustrofóbicos. Já a vida de Phillipe, apesar de sua deficiência, é vista com cores quentes, iluminada (especialmente com luz natural), e a casa com ambientes amplos e bem cuidados. O momento em que esse contraste torna-se mais evidente é na hora do banho de Driss. Quando em casa, ele toma banho com várias crianças entrando e saindo do banheiro, em uma banheira minúscula, que mal comporta seu corpo. Na casa de Phillipe, seu banheiro é quase do tamanho do apartamento de sua mãe.

           Ao final, me senti tocado pela bela história que acabei de conhecer. Mas não pela forma que ela foi contada, pois não pude deixar de ter a impressão de já “ter visto isso antes” em outros filmes, ainda melhores, como Rain Man ou Tempo de Despertar.    

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