ROCK OF AGES
David Arrais
Rock Of Ages é
a adaptação, dirigida por Adam Shankman do
musical homônimo da Broadway, sobre Stacee Jaxx (Tom Cruise, surpreendente), um
roqueiro excêntrico e decadente em plenos anos 80, Sherrie (Julianne Hough) uma jovem
do interior que viaja pra cidade grande para tentar a sorte como cantora e Drew
(Diego Boneta), barman/ cantor de rock a espera de uma oportunidade.
Ambientado na
maior parte no Bourbon, tradicional casa de shows de rock de Los Angeles,
comandada por Dennis Dupree (Alec Baldwin), amante do rock e velho parceiro do
empresário de Stacee, Paull Gill (Paul Giamatti), e Jonny (Russel Brand)
espécie de mestre de cerimônias da boite. Enquanto ocorrem as grandes festas na
casa noturna, o prefeito Whitmore (Bryan Cranston) e sua esposa Patricia
(Catherine Zeta-Jones) comandam uma cruzada pelo fechamento do Bourbon.
Desde o
início, a trama é irritantemente previsível, repleto de atuações fracas e
exageradas. A montagem é trôpega, com vários erros de continuidade e quantidade
excessiva de cortes. Algumas cenas musicais parecem ter sido adaptadas por
completo do espetáculo teatral, inclusive desrespeitando a 4ª parede (quando os
personagens olham diretamente para a câmera), um recurso técnico de teatro, mas
que poucas vezes funciona no cinema.
Repleto de
hits dos anos 80, o longa sempre melhora naqueles momentos em que explora toda
a energia e força do rock daquela década, como “I wanna rock” e “We’re not gonna
take it” do Twisted Sisters, ou “Wanted Dead or ALive” do Bon Jovi,
interpretada por Tom Cruise na melhor sequência do filme.
Nem
mesmo como uma homenagem aos clássicos dos anos 80, Rock of Ages funciona,
pois, em uma cena envolvendo Stacee e a jornalista Constance (Malin Akerman),
da Rolling Stone, que poderia ser memorável, o roteiro demonstra falta de
coragem e excesso de moralismo, ao não explorar a sensualidade da cena, obtendo
um resultado que ultrapassa o ridículo.
O par
romântico Drew e Sherrie não tem carisma nem química, conseguindo atingir o
patamar de outros casais insossos (para ser gentil) das telas como Bill Turner
e Elizabeth em Piratas do Caribe, ou Paris e Helena em Tróia. A dupla que dirige a boite, Dupree e Jonny, apesar
de interessante, é completamente desperdiçada em diálogos sofríveis e cenas
“cômicas” sem graça, e com uma reviravolta desnecessária e sem sentido.
Outro casal que não explica a que
veio é aquele formado pelo prefeito e sua esposa. Chega a despertar curiosidade
como Whitmore venceu uma eleição, já que em momento algum mostra pulso para o
comando (exceto para suas “escapulidas” com a secretária), sempre ofuscado pela
esposa Patricia. Esta comanda uma operação de guerra contra Stacee Jaxx,
explicando suas motivações num monólogo risível. A propósito, a interpretação
de Catherine Zeta-Jones beira momentos de extrema “vergonha alheia”.
As únicas
atuações dignas de elogios são as de Tom Cruise e Paul Giamatti. Cruise constrói
um astro do rock convincente, parecendo sempre sob efeito de entorpecentes,
Jaxx personifica todos os estereótipos dos astros de rock, desde seu constante
apelo sexual, enfatizado pela sua forma física, às extravagantes exigências de
camarim, passando pela excentricidade, exemplificada pelo “amigo” de Stacee que
o acompanha em quase todas as cenas fora do palco.
Paul Giamatti,
desde sua caracterização até a entonação com que profere suas falas, consegue
convencer como um empresário, a primeira vista boa gente, mas depois mostra-se
um homem inescrupuloso, capaz de qualquer coisa por dinheiro.
Também merece
destaque a participação da cantora Mary J. Blidge, que, apesar de presa em mais
um personagem dispensável (a dona de um stripclub) consegue mostrar todo seu
talento musical, interpretando a música “Anyway you want” entre outras.
A recriação de
época também é falha, pois não é orgânica. Os objetos marcantes da década de
80, como os figurinos exagerados das bandas, os penteados ou os celulares
enormes são jogados na tela como se fizessem questão de chamar a atenção como
algo principal na tela, não como elementos de composição das cenas.
A trilha
sonora surge extremamente equivocada, como nas cenas românticas, quando se repetem
as notas iniciais de um tema que nunca é executado por completo, deixando a
sensação de que “está faltando alguma coisa”. E isso é algo comprometedor em um
musical.
Infelizmente,
com um roteiro fraco e personagens desinteressantes, é impossível fazer um
filme que não caia no esquecimento logo depois que deixamos a sala. E Rock Of
Ages é a prova disso.
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