domingo, 19 de agosto de 2012

E aí, comeu?

E AÍ, COMEU?





David Arrais

     "E aí, comeu?" conta a história de três amigos Honório (Marcos Palmeira), Fernando (Bruno Mazzeo) e Afonso (Emílio Orciollo Neto) que sempre se reúnem no Bar Harmonia, sendo atendidos pelo seu garço favorito, que é "a cara do Seu jorge" (Seu Jorge) para conversarem sobre suas intimidades, e mais especificamente sobre suas conquistas sexuais/amorosas. 
   
     Cada um está num estágio diferente da vida: Honório é casado e pai de três filhas, porém tem começado  a perceber mudanças de comportamento em sua esposa (Dira Paes, no piloto automático, numa personagem incrivelmente chata). Fernando está passando por um divórcio e sua esposa está saindo de casa. E Afonso (ou Afonsinho, como ele faz questão de ser chamado) é um escritor frustrado/bom vivant, que vive às custas do dinheiro do pai, e assíduo frequentador das "casas de tolerância" do Rio de Janeiro.

     Mesmo com alguma profundidade, os personagens não provocam identificação com o público. O único arco dramático levemente trabalhado é o de Afonsinho, que apesar da superficialidade de como o tema é tratado (ele percebe ter uma vida vazia pela falta de amor), acaba sendo o único que gera real preocupação por parte do público. E também é dele o único par romântico interessante, com alguma profundidade.

     Bruno Mazzeo, apesar de engraçado, não é um bom ator, prejudicando todas as suas cenas dramáticas, na mesma medida em que brilha nas cenas cômicas. E Marcos Palmeira é quase inteiramente desperdiçado, servindo apenas de veículo para milhares de palavrões, exceto na cena em que dá uma "aula" para o público.
     
     Apesar de não manter o foco em apenas um dos protagonistas, o roteiro acaba soando episódico, com pouca interação entre as cenas, deixando a impressão de que foram pensadas isoladamente, apenas para explorar a veia cômica dos atores, sem a preocupação de contar uma história.
     
     Alguns personagens secundários também não são bem explorados, como o tio de Afonsinho (José de Abreu), dono de uma editora, a quem ele procura para publicar seu livro, que tenta explicar ao sobrinho a importância do amor com diálogos sofríveis, ou a bela porém desinteressante Gabi, jovem de 17 anos que acaba se tornando interesse romântico de um dos protagonistas.

     No entanto, outros coadjuvantes são sensacionais, como a linda Isabela, que, com sua inteligência, sempre coloca os amigos em situações constrangedoras, ou o "experiente" garçom Seu Jorge, que sempre tem uma aventura amorosa para compartilhar. E uma participação relâmpago, mas engraçadíssima, de Murilo Benício, que interpreta um publicitário amigo de longa data de Afonsinho. Também são dignas de nota as cenas com as moças que sempre ficam constrangidas com os comentários da mesa ao lado.

     Mesmo cumprindo seu objetivo principal, que é de fazer rir, o filme tem seu maior defeito em sua linguagem e formato. A sensação é que estamos assistindo a um programa de TV com uma duração maior, não Cinema.   

2 comentários:

  1. Definitivamente tenho o pé atrás com os filmes nacionais, principalmente os feitos por essa "nova safra" de humoristas como o Bruno Mazzeo, que até hoje só me fez rir com aquele monólogo do cara viciado em piadas, onde ele apresentou no Jô Soares. Depois de ter assistido aquele cilada.com, a minha aversão a filmes brasileiros de comédia só aumentou. Não se fazem mais filmes como "O Auto da Compadecida".

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  2. Cara, eu não vi o cilada.com, mas ouvi dizer que esse é melhor. É divertido, mas, reiterando, não é cinema.

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