quarta-feira, 4 de julho de 2012

Para Roma, com amor




PARA ROMA, COM AMOR
David Arrais

       As obras de Woody Allen sempre foram marcadas pela sua notória capacidade de observar o cotidiano das pessoas. A insegurança, a melancolia, a frustração, a sexualidade,  anseios e ambições das pessoas são temas sempre presentes em seus trabalhos. Neste ótimo “Para Roma, com Amor”, todos estes temas estão presentes de forma magistral.

Logo na primeira cena, é possível perceber “sim, este é um filme de Woody Allen”, com a quebra da quarta parede, quando o personagem fala diretamente com o público e nos apresenta a cidade e alguns dos personagens do filme. A partir daí, somos levados a um emocionante passeio pela cidade eterna, com seus monumentos históricos, como o Coliseu, a Fontana de Trevi ou a Piazza Di Spagna, sempre servindo de pano de fundo para o desenvolvimento de seus personagens. E que personagens!

            Sem nunca perder o ritmo, mesmo com algumas histórias que não se conectam,  vamos conhecendo todos eles, um a um, com todas as suas nuances e sutilezas. Milly e Antonio,um jovem casal em Lua de Mel que se envolve acidentalmente com Anna (Penelope Cruz), uma prostituta que confunde Antonio com um cliente, Halley (Alisson Pill),uma turista americana que se apaixona por Michelangelo(Flavio Parenti),  um jovem italiano, ao pedir informações, John (Jesse Eisenberg) e Sally (Greta Gerwig) um casal de estudantes que recebem a visita de Monica (Ellen Paige), uma jovem atriz amaericana que vai encontrar os amigos depois do fim de um relacionamento, o arquiteto Jack (Alec Baldwin)  que visita a cidade onde viveu 30 anos antes, e que conhece John ao visitar a rua onde viveu,e Jerry e Phyllis (Woody Allen e Judy Davis), pais de Halley, um casal de aposentados que viaja a Roma para conhecer a família do futuro genro, e Leopoldo (Roberto Benigni), um simples contador que tem sua vida mudada ao se tornar uma celebridade “instantânea” sem nenhum motivo aparente.

           O roteiro trabalha muito bem a construção dos personagens e a sua relação com a cidade, tais como: o trânsito caótico, o traçado urbano irregular e complexo de Roma que tornam quase impossível explicar a um viajante como chegar de uma região a outra. A rotina maçante do contador Leopoldo, acordando sempre na mesma hora, comendo o mesmo café da manhã e trabalhando todo dia em seu cubículo e sendo menosprezado por seus colegas de escritório. Ou a relação, ainda difícil, de Jerry, um produtor de óperas “à frente do seu tempo” com sua aposentadoria, ao perceber a possibilidade de “fugir” daquela situação ao ouvir o pai de Michelangelo cantando no banheiro. Aliás, é necessário enfatizar como Allen mostra-se talentoso para o humor (como de costume), mesmo sem dizer uma palavra em algumas cenas.

Além de Jerry, algumas das melhores cenas cômicas são protagonizadas por Emily, que se perde de seu marido durante a Lua de Mel e por Antonio, que precisa levar Anna a vários compromissos como sua verdadeira esposa.

Outro aspecto sempre presente nos personagens é a insegurança. Seja em Antonio, por ter que se mostrar competente e seguro em um encontro com parentes importantes da Capital, em Sally, visivelmente incomodada com a visita de sua amiga, Monica ou Giancarlo (Fabio Armiliato), pai de Michelangelo, um talentoso tenor, porém extremamente tímido. 

Existe ainda uma grande crítica social, baseada em Leopoldo: A necessidade da imprensa e do público de uma forma geral de criar celebridades “instantâneas”, mesmo sem nenhum motivo, ou nada que os faça merecer esse “título”.

Porém, quem rouba para si todos os holofotes sempre que aparece é Jack, desde o modo tocante como o arquiteto relata suas experiências da época em que lá viveu, aos momentos em que usa essas experiências, como uma consciência, quase como o grilo Falante do Pinóquio, para aconselhar o jovem John a resolver os problemas causados pela visita de Monica.

Com uma história bem amarrada, personagens cativantes e Roma sendo mostrada com uma belíssima fotografia, mais um grande filme de um grande realizador, que consegue a quase trinta anos, manter a incrível média de um filme por ano. 

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