PARA ROMA, COM AMOR
David Arrais
As
obras de Woody Allen sempre foram marcadas pela sua notória capacidade de
observar o cotidiano das pessoas. A insegurança, a melancolia, a frustração, a sexualidade, anseios e ambições das pessoas são temas sempre
presentes em seus trabalhos. Neste ótimo “Para Roma, com Amor”, todos estes
temas estão presentes de forma magistral.
Logo na
primeira cena, é possível perceber “sim, este é um filme de Woody Allen”, com a
quebra da quarta parede, quando o personagem fala diretamente com o público e
nos apresenta a cidade e alguns dos personagens do filme. A partir daí, somos
levados a um emocionante passeio pela cidade eterna, com seus monumentos
históricos, como o Coliseu, a Fontana de Trevi ou a Piazza Di Spagna, sempre
servindo de pano de fundo para o desenvolvimento de seus personagens. E que
personagens!
Sem
nunca perder o ritmo, mesmo com algumas histórias que não se conectam, vamos conhecendo todos eles, um a um, com
todas as suas nuances e sutilezas. Milly e Antonio,um jovem casal em Lua de Mel
que se envolve acidentalmente com Anna (Penelope Cruz), uma prostituta que
confunde Antonio com um cliente, Halley (Alisson Pill),uma turista americana que
se apaixona por Michelangelo(Flavio
Parenti),
um jovem italiano, ao pedir informações, John (Jesse Eisenberg) e Sally (Greta
Gerwig) um casal de estudantes que recebem a visita de Monica (Ellen Paige), uma
jovem atriz amaericana que vai encontrar os amigos depois do fim de um
relacionamento, o arquiteto Jack (Alec Baldwin)
que visita a cidade onde viveu 30 anos antes, e que conhece John ao
visitar a rua onde viveu,e Jerry e Phyllis (Woody Allen e Judy Davis), pais de
Halley, um casal de aposentados que viaja a Roma para conhecer a família do
futuro genro, e Leopoldo (Roberto Benigni), um simples contador que tem sua
vida mudada ao se tornar uma celebridade “instantânea” sem nenhum motivo aparente.
O
roteiro trabalha muito bem a construção dos personagens e a sua relação com a
cidade, tais como: o trânsito caótico, o traçado urbano irregular e complexo de
Roma que tornam quase impossível explicar a um viajante como chegar de uma
região a outra. A rotina maçante do contador Leopoldo, acordando sempre na
mesma hora, comendo o mesmo café da manhã e trabalhando todo dia em seu
cubículo e sendo menosprezado por seus colegas de escritório. Ou a relação,
ainda difícil, de Jerry, um produtor de óperas “à frente do seu tempo” com sua
aposentadoria, ao perceber a possibilidade de “fugir” daquela situação ao ouvir
o pai de Michelangelo cantando no banheiro. Aliás, é necessário enfatizar como
Allen mostra-se talentoso para o humor (como de costume), mesmo sem dizer uma
palavra em algumas cenas.
Além de Jerry,
algumas das melhores cenas cômicas são protagonizadas por Emily, que se perde
de seu marido durante a Lua de Mel e por Antonio, que precisa levar Anna a
vários compromissos como sua verdadeira esposa.
Outro aspecto
sempre presente nos personagens é a insegurança. Seja em Antonio, por ter que
se mostrar competente e seguro em um encontro com parentes importantes da
Capital, em Sally, visivelmente incomodada com a visita de sua amiga, Monica ou
Giancarlo (Fabio Armiliato), pai de Michelangelo, um talentoso tenor, porém
extremamente tímido.
Existe ainda
uma grande crítica social, baseada em Leopoldo: A necessidade da imprensa e do
público de uma forma geral de criar celebridades “instantâneas”, mesmo sem
nenhum motivo, ou nada que os faça merecer esse “título”.
Porém, quem
rouba para si todos os holofotes sempre que aparece é Jack, desde o modo tocante
como o arquiteto relata suas experiências da época em que lá viveu, aos
momentos em que usa essas experiências, como uma consciência, quase como o
grilo Falante do Pinóquio, para aconselhar o jovem John a resolver os problemas
causados pela visita de Monica.
Com uma
história bem amarrada, personagens cativantes e Roma sendo mostrada com uma
belíssima fotografia, mais um grande filme de um grande realizador, que
consegue a quase trinta anos, manter a incrível média de um filme por ano.
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