David Arrais
O Palhaço, segundo trabalho de
Selton Mello como diretor, foi lançado em 2011, porém só agora tive a oportunidade
de assisti-lo. É um roadmovie que
mostra a história de uma trupe do circo Esperança, liderados por Benjamin, que
interpreta o palhaço Pangaré, e seu pai, o palhaço Puro Sangue, e dono do
circo.
Selton Mello
mostra seu talento habitual, na construção do palhaço Benjamin como um homem
triste, amargurado, a procura de algo que ele mesmo talvez não saiba o que é.
Paulo José é um monstro da atuação, ao mesmo tempo alegrando e emocionando o
espectador sempre que aparece e a jovem Larissa Manoela sempre encanta, intriga
e emociona.
Os personagens secundários também são cativantes, como o anão Meio
Quilo, o casal de acrobatas (que frequentemente mudam de nacionalidade para
atrair mais público), a senhora com seios imensos e os músicos, que sempre
tentam ganhar um dinheirinho a mais.
Tecnicamente o
filme beira a perfeição. Todas as cenas são extremamente bem executadas, como
as sequências no interior do circo, com cores quentes, fortes, vibrantes, além
da direção de arte que constrói com perfeição aquele ambiente peculiar,
humilde, simples ou as cenas externas, com o uso tocante das cores da bandeira
brasileira, sempre distribuídos equitativamente na tela.
Também são
dignas dos maiores elogios a reconstrução das minúsculas cidades por onde o
circo Esperança viaja, seja nas placas com erros de português, ou na pobreza
extrema, infelizmente presentes em nosso país até hoje.
Outro aspecto
a se salientar é a reconstrução de época, desde pequenos detalhes, como as
cédulas de dinheiro, documentos de identidade, placas de veículos (as placas de
veículos passaram ser na cor cinza apenas nos anos 90).
A trilha
sonora também chama a atenção, com baluartes da música romântica/brega, como
Odair José, Nelson Ned e Waldick Soriano, além de músicas com o tradicional
ritmo das fanfarras circenses.
O que talvez
seja o maior trunfo da produção são os personagens que aparecem e desaparecem
durante o filme. O patrão piadista vivido por Jorge Loredo, Aldo, “da Aldo Auto
Peças”, interpretado por Danton Mello (irmão de Selton), na cena definidora do
personagem Benjamin, Tonico Pereira nos delicia com os mecânicos gêmeos, Emílio
Orciollo Neto vive vendedor trambiqueiro e Jackson Antunes tem uma aparição
relâmpago, porém protagoniza um dos diálogos mais marcantes.
No entanto, a
grande cena é aquela com o monólogo de Moacyr Franco, que mostra o
relacionamento de um delegado carrancudo com sua família. E seu gato.
Infelizmente,
o filme possui alguns defeitos de linguagem e estrutura narrativa. Apesar de
bem conectadas, as histórias acabam parecendo um amontoado de esquetes, com um
tom episódico. Na cidade tal, acontece isso, isso e isso. Passamos pra
seguinte. Agora acontece isso, isso e isso. Saem personagens tal, tal e tal e
aparecem personagens tal, tal e tal.
Concluindo: O
Palhaço é um filme bom? Sim, sem dúvida.
Recomendo que assistam? Sim. Não percam. Como não gostar de um
fantástico estudo de personagens, conduzido magistralmente por um diretor quase
estreante na função? Mas aí você vem com a pergunta fundamental. Gostou? Ao que
prontamente respondo: Não.
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