DETONA RALPH (Wreck It Ralph)
David Arrais
Detona Ralph, nova animação da Disney
dirigida por Rich Moore, conta a história de Ralph, o vilão do jogo de
fliperama Conserta Félix, que começa a desgostar da ideia de ser vilão. Em
busca de reconhecimento como um “cara legal”, ele percorre vários outros jogos,
e acaba indo parar no arcade Corrida do Açúcar, onde conhece a pequena
Vanellope, e acaba pondo em risco a existência dos dois videogames.
Desde
o início, é possível perceber que participaremos de uma grande viagem pelo
mundo dos games, com o trecho do Mickey marinheiro todo pixelado, como nos
primeiros jogos eletrônicos. A partir daí, conhecemos o nosso protagonista, e
seu adversário Félix, desde a origem do seu jogo (através do vídeo de
demonstração da própria máquina) até a evolução dos demais jogos ao seu redor
na loja de fliperama durante 30 anos.
Durante
a noite, em um clima que mistura Toy
Story e Uma Cilada para Roger Rabbit,
os personagens dos jogos saem de suas máquinas e se encontram na Estação
Central dos Jogos, podendo viajar de uma máquina para outro. O drama do
protagonista é contado em uma curiosa sessão de um grupo de apoio, onde vilões
de vários jogos, como Bowser do Super Mario Bros, um zumbi, Kano do Mortal
Kombat, Zangief (não necessariamente um vilão) e M. Bison do Street Fighter,
Robotnik do Sonic, o Fantasma do Pacman, contam suas desventuras e sofrimento
por sua condição de vilões.
Chama
à atenção toda a construção da mitologia que envolve o mundo daquele fliperama:
o medo da “população” que suas máquinas entrem em manutenção, a importância de
não interferirem nos personagens controlados pelos jogadores humanos, o medo de
que alguém “Vire Turbo”, um personagem sofre de pixelexia, “doença” que faz com
que ele fique sofrendo panes durante o jogo, a senha para um cofre é o mais
famoso código de videogames e o conceito de Retrô, tão em voga ultimamente.
Mesmo
não sendo um grande conhecedor de videogames, pude perceber dezenas de
referências a jogos antigos, e mais recentes, além dos citados no “grupo de
apoio”, como Call Of Duty, Halo, Super Mario Kart e também referências à
cultura pop/internet (Mentos + Coca Cola Diet, quantas lambidas são necessárias
para se chegar ao centro de um doce, o DJ de suma das festas é Skrillex) e até
mesmo a filmes, como Alien, Superman,
Wall-e e King Kong.
Mas,
as referências a games não param nas citações. O movimento dos personagens dos
jogos antigos, como do próprio Conserta Félix, são semelhantes aos dos arcades,
além dos efeitos sonoros referentes aos seus movimentos.
O visual de
alguns lugares, como o interior do edifício onde ocorre o jogo é sempre formado
por linhas ortogonais, para dar o visual pixelado. Por tudo isso, é marcante o
momento em que um personagem antigo vê alguém de um jogo de última geração e
diz: “A alta definição do seu rosto é incrível”.
A trilha
sonora, composta por Henry Jackman, que alterna sons do tempo dos videogames 8
bits com temas simples, conseguindo transmitir bem o sentimento de cada cena, é
espetacular, contando ainda com excelentes canções como Shut Up and Drive e
sugar Rush.
Os
personagens são extremamente cativantes, com suas motivações muito bem
definidas. A pequena Vanellope chega a ser tão encantadora quanto a Boo de Monstros S.A., e sua relação com Ralph
é convincente desde o começo. O Rei Doce também é um vilão fantástico e
carismático, sem nunca soar maniqueísta. Félix tem um ar ingênuo, frágil e quase
infantil, o que acaba justificando a facilidade com que se apaixona pela
oficial Calhoun, uma mulher forte e de intimidadora.
Mas,
o grande destaque fica mesmo por conta de Ralph. Carismático e tridimensional, é
curioso ver seu sofrimento e a sua jornada em busca de reconhecimento e
aceitação própria, como em uma das cenas mais fortes do filme, em que ele
precisa usar seu “único talento” para convencer outro personagem a mudar de ideia.
E ainda possui uma característica rara em animações: ele é o personagem mais
divertido, deixando para os coadjuvantes o papel de “escada” para as piadas.
Divertido
na medida certa, alternando excelentes momentos dramáticos (o ápice do bullying que Vanellope sofre das outras
corredoras é tão agressivo quanto das irmãs da Cinderela), Detona Ralph é mais uma grande produção Disney, assinada com todo o
talento do gênio John Lasseter, podendo figurar em pé de igualdade com outros
grandes clássicos do estúdio.
P.S. 1: A cena dos créditos é fantástica, mostrando Ralph e
Vanellope passando por vários jogos como Wolf, Street Fighter, Doom e outros
que a minha ignorância no assunto não permitiu idenitificar.
P.S. 2: Por não
haver cópias legendadas em Fortaleza, tive que assistir a versão dublada. O
trabalho é fraquíssimo, quase nos tirando a atenção do que está acontecendo na
tela. Fiquei curioso para ver o trabalho de John C. Reilly, Sarah Silverman, Jack
McBrayer e Jane Lynch na versão original.
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