AS AVENTURAS DE PI (The Life Of Pi)
David Arrais
As Aventuras de Pi, nova produção dirigida
por Ang Lee e escrito por David Magee, a partir do romance de Yann Martel, mostra
o relato de Pi (Irrfan Khan) a um escritor canadense (Rafe Spall), de como
sobreviveu ao naufrágio do navio que levava os animais do zoológico de sua pai
da Índia para o Canadá, quando ainda era adolescente. O que gerou esse encontro
foi uma promessa de ouvir uma história que lhe “faria acreditar em Deus”.
Pi,
apelido dado a si mesmo por Piscine Patel (a explicação de sua tentativa de
escapar do bullying gerado pelo
trocadilho do seu nome é engraçadíssima), é um jovem curioso e inteligente, que
além do interesse por música e animais, era seguidor de três religiões:
Catolicismo, Hinduísmo e Islamismo. Por conta da crise econômica na Índia, seu
pai se vê obrigado a iniciar vida nova no Canadá, tendo que vender todos os
animais do zoológico, enviando-os de navio para a América do Norte.
No entanto,
durante a travessia, ocorre um naufrágio, e Pi fica à deriva no mar, em um bote
salva-vidas, com mais quatro sobreviventes inusitados: Richard Parker, o tigre
de Bengala do zoológico, Suco de Laranja, um Orangotango, além de uma zebra
(que quebrou a pata na queda) e uma hiena. A partir daí, começa uma viagem em
busca de terra, além de uma grande jornada de autoconhecimento.
A fim de
evitar a monotonia, o filme sempre alterna momentos da entrevista de Pi ao
escritor com as passagens da travessia (mais de dois terços do filme se passam
no barco, com apenas Pi e Richard Parker). Dessa forma, o ritmo é sempre
contínuo, com todas as cenas bem desenvolvidas, mesmo aquelas mais lentas, com explicações
orgânicas para toda a engenhosidade de Pi e as interrelações dos náufragos.
A atuação de
Suraj Sharma, que interpreta Pi durante a travessia, é marcante, conseguindo
segurar o filme praticamente sozinho, atingindo o grande ápice durante uma
tempestade, em que ele contesta todas as suas divindades.
O brilhantismo
da fotografia e da direção de arte é um caso a parte. Algumas cenas, como o
salto da baleia no escuro, a sequência com os peixes voadores, o nascer do Sol
durante uma calmaria, a ilha com forma humana, ou o momento em que Pi vê o
navio completamente submerso, são dignas de figurarem como quadros nas paredes
de um museu. Outro aspecto que chama a atenção é o uso das cores: nas passagens
na Índia e no mar são sempre repletas de cores, quentes e fortes, em
contraponto a casa de Pi no presente, com cores sóbrias e neutras.
O uso da
fotografia 3D é fundamental para a experiência. A imersão visual e profundidade
de campo complementam a narrativa, ajudando a nos colocar completamente naquele
ambiente. Também existem interessantes rimas visuais, como o ponto de vista de
Pi de dentro da piscina e de dentro do mar. Os efeitos visuais são incrivelmente
reais e convincentes, como os animais no bote salva-vidas, totalmente digitais,
e as cenas do naufrágio.
A história é
repleta de metáforas e simbologias, como a visão divina da água (do ponto de
vista hindu), o desprendimento do espírito selvagem de Pi, a ilha que prega a
necessidade de não nos acomodarmos depois de atingirmos um objetivo, os
confrontos entre os animais e mesmo o nome do tigre, Richard Parker, é um nome
“tradicional” na história e literatura para náufragos, já tendo sido utilizado
por autores como Edgar Allan Poe e Samuel Taylor Coleridge, e claro, o próprio
naufrágio, que levou toda a vida de Pi.
Uma ideia tão
inusitada poderia facilmente ultrapassar o limite e cair no ridículo, ou acabar
se tornando monótono e aborrecido. Mas, nas mãos de um artista com tanta
sensibilidade como Ang Lee, acaba por se tornar uma grande obra, que ainda
oferece uma interessante e inovadora sobre as religiões, que, se não lhe fizer
acreditar em Deus, vai pelo menos lhe dar uma nova perspectiva sobre o assunto
e lhe ensinará a respeitar àqueles que seguem alguma religião.
Adorei eu usei esse texto pra minha redação da 🏫!!!!! Vcs estão de parabéns por esse lindo texto!!
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