Ted
David Arrais
Ted conta a história de um ursinho de
pelúcia dado de presente ao solitário menino John, que, por conta do pedido de
natal de seu novo dono (a segunda coisa mais poderosa do mundo), ganha vida, e
passa a ser o seu melhor amigo por toda a vida. No entanto, essa amizade gera
problemas para ele (Mark Whalberg), durante sua vida adulta.
Partindo de
uma premissa relativamente simples, o roteiro nos leva por todo o crescimento
dos dois, passando pelas agruras da adolescência, até chegar à vida adulta.
Neste pequeno prólogo, narrado pela voz marcante de Patrick Stewart, também é
explicada a razão pela qual todos no mundo conseguem conviver normalmente com
um bicho de pelúcia que age como um ser humano.
Quando
adultos, Ted e John moram com Lori (Mila Kunis), namorada de John há quatro
anos, que apesar de respeitar e, até certo ponto admirar, a amizade de seu
namorado e seu bichinho, não se conforma que um homem de 35 anos tenha como
passatempo preferido fumar maconha, beber cerveja e assistir Flash Gordon. E
ainda tenha medo de trovões.
Mark Whalberg
está extremamente convincente saindo de sua zona de conforto de interpretação.
Sua performance como um adulto com mente de criança, que acha que sempre existe
espaço para piadas flatulentas, ou que assistir tv é razão suficiente para
faltar ao trabalho, é elogiável.
Mila Kunis tem
um desempenho igualmente competente. Lori é uma mulher relativamente bem
sucedida no trabalho, que sempre consegue se desvencilhar com desenvoltura dos
assédios nada sutis de seu chefe Rex (John McHale, da série Community) e que
sempre tenta contornar a imaturidade, ou o fato de não conseguir arrumar um
emprego melhor, de seu companheiro.
Contudo, o
grande astro do filme é mesmo o seu personagem-título. Dublado por Seth
Mcfarlane, ele é o veículo perfeito para a proliferação de piadas racistas,
preconceituosas, machistas e de todo tipo de cunho politicamente incorretos,
tão comuns na carreira de seu criador. Excepcionalmente bem construído em CGI, Ted
mostra ser como seu grande amigo: Um adulto com comportamentos infantis (e que
compartilha do medo de trovões).
O grande
segredo do filme reside na ótima dinâmica entre o casal protagonista e Ted.
Todo o esforço de criação de roteiro, atuações e efeitos especiais seriam em
vão, caso não acreditássemos ser possível aquela interação. Os constantes
confrontos (muitas vezes até hilários, como a genial sequência de “luta”) entre
os três são extremamente ricos e verossímeis.
Os arcos
dramáticos dos personagens são extremamente bem conduzidos, mostrando todas as
fases daquelas relações, seus desgastes, com momentos definidores das ações dos
personagens, como a festa que acontece no apartamento de Ted que é um dos
momentos mais divertidos, especialmente pelo seu convidado especial. Tudo que
acontece durante a projeção tem sua razão de ser.
Os personagens
secundários são fundamentais para o desenvolvimento da trama. John McHale
exercita sua veia cômica como Rex, o chefe inconveniente e narcisista que tenta
conquistar Lori todos os dias, sem exagerar na caracterização de seu
personagem. Na direção oposta, porém igualmente engraçado, Giovanni Ribisi
deita e rola (literalmente) como o pai, obcecado por Ted desde criança, de um
menino mimado (que é vítima de uma das melhores tiradas do urso, por sua forma
física). Sam J. Jones, como ele mesmo, tem a melhor de todas as participações.
Mesmo tendo
participações menores, quase como pontas, também são dignos de nota: Jessica
Barth como Tami-Lynn, a namorada improvável de Ted, Matt Walsh que interpreta
Thomas, o estúpido, porém compreensivo, chefe de John. Norah Jones aparece de forma surpreendente, como ela mesma, porém como um antigo affair de Ted. Ryan Reynolds e Patrick
Warburton também surpreendem, numa das melhores cenas do filme.
Apesar de se
tratar de uma comédia, Ted também
funciona em seus momentos dramáticos, como nas crises do relacionamento entre
John e Lori, (em que os atores surpreendem com suas atuações) e no momento mais
difícil da amizade dele com Ted, já no terceiro ato.
A trilha
sonora, apesar de não ser marcante, cumpre bem seu papel, além de lembrar
bastante alguns temas do seriado mais famoso de McFarlane. E possui uma "música incidental" que será facilmente reconhecida pelos fãs.
Finalizando,
os fãs de Seth McFarlane, genial criador dos seriados Family Guy, Cleveland Show (spin
off do primeiro) e American Dad,
podem ficar felizes e tranquilos. Seu humor ácido e politicamente incorreto, em
sua primeira incursão em liveaction, é
capaz de se sustentar com a mesma qualidade e inteligência dos programas da TV num
longa metragem de duas horas de duração.
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