O DITADOR
David Arrais
O Ditador, conta
a história de Aladeen (Sacha Baron Cohen), que tem como um de seus hobbies
mandar executar funcionários está sendo acusado pela ONU de desrespeitar os
direitos humanos (“o que é isso?”) e de estar enriquecendo urânio para a
fabricação de armas nucleares, algo engado por ele em um convincente discurso
popular, da sacada de seu gigantesco e narcisista palácio.
Diante das
acusações, ele é orientado por seu tio e conselheiro Tamir (Ben Kingsley) a
discursar na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque. Depois de ser enganado por
pessoas de seu imenso séquito, ele acaba sendo salvo por Zoey (Anna Faris), uma
ativista feminista vegetariana que luta por todas as causas que envolvem
minorias.
A
partir daí, a história segue um tortuoso caminho até o seu rápido final. Apesar
de ter uma trama interessante, que nos instiga a querer saber como Aladeen
conseguirá seus objetivos, o roteiro mostra-se falho, na medida em que os
momentos cômicos são meramente jogados na tela, sem muita conexão entre si, com
uma quantidade excessiva de cortes.
Diferentemente
de Brüno e Borat, aqui as gags são encenadas, deixando de lado o formato de
mockumentary (documentário fictício), diminuindo o impacto de algumas delas,
como o momento em que Aladeen agride alguns clientes na loja de Zoey.
Outro grande
defeito do filme foi a sua campanha de marketing. Como ultimamente acontece com
a maioria das comédias, algumas das passagens mais engraçadas foram exibidas a
exaustão nos trailers, que vem aparecendo nos cinemas desde o começo de 2012, o
que acabou por enfraquecê-las.
A
participação de Anna Faris também é contestável. Famosa pela franquia “Todo Mundo em Pânico”, sua performance é mais uma vez caricatural ao extremo, com sua voz constantemente
histérica e os olhos arregalados, ultrapassando o estereótipo de sua
personagem. Curiosamente, suas aparições sempre melhoram quando ele adota uma
interpretação mais contida.
Porém, nem
tudo são problemas em O Ditador. A participação
de John C. Reilly, como o segurança particular do general em solo americano é
divertidíssima, como na passagem em que Aladeem o ensina como utilizar alguns
instrumentos de tortura. Bobby Lee está engraçadíssimo como o Sr. Lao,
representante do governo chinês que tem um curioso fetiche por celebridades.
Ben Kingsley
exibe a competência habitual, apesar de em alguns momentos parecer tão
constrangido e desconfortável quanto seu personagem ao ter que se submeter aos
caprichos do sobrinho “Líder Supremo”.
Impossível deixar
de destacar a participação de Jason
Mantzoukas como Nadal, o cientista que se torna companheiro de Aladeen
durante sua estadia nos EUA, e que possui uma química fantástica com Sacha, sempre
engrandecendo a produção quando aparecem juntos.
Também são dignas de nota as aparições de
Megan Fox e Edward Norton, que participam de duas das mais divertidas sequências
do filme.
Como não
poderia deixar de ser, a grande estrela é Sacha. Mostrando mais uma vez seu incrível
talento como ator, ele nos entrega um personagem quase tão cativante quanto
Borat. Apostando mais no humor criado a partir dos diálogos e reações de seu
peronagem, como no momento em que anda de moto com Zoey, ele procura fugir um pouco
do humor físico, ainda que ele esteja presente, como numa escatológica cena envolvendo
uma mulher em trabalho de parto e um celular. Contudo, o auge de sua
performance é o momento em que Aladeen faz uma descoberta que promete “mudar
sua vida”.
Convencido por
sua própria propaganda, o grande Almirante–General está sempre convicto de sua
superioridade e de suas qualidades, mesmo quando está fora de seus domínios. Ele
também sempre faz questão de exibir seus talentos exercitados durante a sua “carreira”
como “opressor supremo”.
Concluindo com um discurso digno de aplausos, ao comparar os males da democracia com os benefícios da ditadura, Sacha Baron Cohen consegue mais uma vez achincalhar a sociedade e cultura supérflua e consumista norte-americana, virando as costas para o politicamente correto, garantindo com isso, ótimas risadas.
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