terça-feira, 28 de agosto de 2012

Rock Of Ages






ROCK OF AGES

David Arrais

Rock Of Ages é a adaptação, dirigida por Adam Shankman do musical homônimo da Broadway, sobre Stacee Jaxx (Tom Cruise, surpreendente), um roqueiro excêntrico e decadente em plenos anos 80, Sherrie (Julianne Hough) uma jovem do interior que viaja pra cidade grande para tentar a sorte como cantora e Drew (Diego Boneta), barman/ cantor de rock a espera de uma oportunidade.

Ambientado na maior parte no Bourbon, tradicional casa de shows de rock de Los Angeles, comandada por Dennis Dupree (Alec Baldwin), amante do rock e velho parceiro do empresário de Stacee, Paull Gill (Paul Giamatti), e Jonny (Russel Brand) espécie de mestre de cerimônias da boite. Enquanto ocorrem as grandes festas na casa noturna, o prefeito Whitmore (Bryan Cranston) e sua esposa Patricia (Catherine Zeta-Jones) comandam uma cruzada pelo fechamento do Bourbon.

Desde o início, a trama é irritantemente previsível, repleto de atuações fracas e exageradas. A montagem é trôpega, com vários erros de continuidade e quantidade excessiva de cortes. Algumas cenas musicais parecem ter sido adaptadas por completo do espetáculo teatral, inclusive desrespeitando a 4ª parede (quando os personagens olham diretamente para a câmera), um recurso técnico de teatro, mas que poucas vezes funciona no cinema.

Repleto de hits dos anos 80, o longa sempre melhora naqueles momentos em que explora toda a energia e força do rock daquela década, como “I wanna rock” e “We’re not gonna take it” do Twisted Sisters, ou “Wanted Dead or ALive” do Bon Jovi, interpretada por Tom Cruise na melhor sequência do filme.

Nem mesmo como uma homenagem aos clássicos dos anos 80, Rock of Ages funciona, pois, em uma cena envolvendo Stacee e a jornalista Constance (Malin Akerman), da Rolling Stone, que poderia ser memorável, o roteiro demonstra falta de coragem e excesso de moralismo, ao não explorar a sensualidade da cena, obtendo um resultado que ultrapassa o ridículo.

O par romântico Drew e Sherrie não tem carisma nem química, conseguindo atingir o patamar de outros casais insossos (para ser gentil) das telas como Bill Turner e Elizabeth em Piratas do Caribe, ou Paris e Helena em Tróia.  A dupla que dirige a boite, Dupree e Jonny, apesar de interessante, é completamente desperdiçada em diálogos sofríveis e cenas “cômicas” sem graça, e com uma reviravolta desnecessária e sem sentido.

Outro casal que não explica a que veio é aquele formado pelo prefeito e sua esposa. Chega a despertar curiosidade como Whitmore venceu uma eleição, já que em momento algum mostra pulso para o comando (exceto para suas “escapulidas” com a secretária), sempre ofuscado pela esposa Patricia. Esta comanda uma operação de guerra contra Stacee Jaxx, explicando suas motivações num monólogo risível. A propósito, a interpretação de Catherine Zeta-Jones beira momentos de extrema “vergonha alheia”.

As únicas atuações dignas de elogios são as de Tom Cruise e Paul Giamatti. Cruise constrói um astro do rock convincente, parecendo sempre sob efeito de entorpecentes, Jaxx personifica todos os estereótipos dos astros de rock, desde seu constante apelo sexual, enfatizado pela sua forma física, às extravagantes exigências de camarim, passando pela excentricidade, exemplificada pelo “amigo” de Stacee que o acompanha em quase todas as cenas fora do palco.

Paul Giamatti, desde sua caracterização até a entonação com que profere suas falas, consegue convencer como um empresário, a primeira vista boa gente, mas depois mostra-se um homem inescrupuloso, capaz de qualquer coisa por dinheiro.

Também merece destaque a participação da cantora Mary J. Blidge, que, apesar de presa em mais um personagem dispensável (a dona de um stripclub) consegue mostrar todo seu talento musical, interpretando a música “Anyway you want” entre outras.

A recriação de época também é falha, pois não é orgânica. Os objetos marcantes da década de 80, como os figurinos exagerados das bandas, os penteados ou os celulares enormes são jogados na tela como se fizessem questão de chamar a atenção como algo principal na tela, não como elementos de composição das cenas.

A trilha sonora surge extremamente equivocada, como nas cenas românticas, quando se repetem as notas iniciais de um tema que nunca é executado por completo, deixando a sensação de que “está faltando alguma coisa”. E isso é algo comprometedor em um musical.

Infelizmente, com um roteiro fraco e personagens desinteressantes, é impossível fazer um filme que não caia no esquecimento logo depois que deixamos a sala. E Rock Of Ages é a prova disso.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O Vingador do Futuro


O VINGADOR DO FUTURO



David Arrais

Lançado em 1990, o cultuado “O vingador do futuro”, dirigido por Paul Verhoeven e estrelado por Arnold Schwarzenegger, foi um dos grandes exemplares do gênero ficção científica, servindo de inspiração para várias obras do estilo, tais como “Matrix”, “Minority Report" e “A Origem”.

Nesse remake dirigido pro Len Wiseman (Anjos da Noite), o cenário é diferente. Depois de uma guerra química que quase destruiu a vida na terra, o mundo está dividido em dois polos: a Colônia (na Oceania), onde trabalham e vivem a parcela pobre da humanidade, e a Federação Britânica (no Norte da Europa), onde vivem os mais favorecidos.  A única ligação entre as duas regiões se dá pela “Queda”, um meio de transporte ultrarrápido, que atravessa o planeta através de um túnel gigantesco em apenas 17 minutos.

Douglas Quaid (Colin Farrel) é um operário infeliz, que vive uma rotina massacrante, sempre fazendo a travessia da Queda ao lado do seu amigo Harry, sentado no mesmo assento, e exercendo a mesma função na fábrica de androides. Casado com Lori (Kate Beckinsale) a 7 anos, ele percebe a possibilidade de escapar da mesmice com a empresa Rekall, que insere memórias artificiais na mente dos clientes.

A partir daí, o filme segue um ritmo de ação quase ininterrupto até o fim, com cenas de luta extremamente criativas, como o primeiro combate de Quaid com os policiais da federação, ou uma sequência envolvendo três personagens dentro de um elevador que se movimenta em todas as direções.

Quando não está nesses momentos frenéticos, o roteiro sempre brinca com a expectativa do público, com alterações em cenas marcantes, mostrando respeito ao material original, além de guiá-lo através da história. Boa parte das alterações funciona, como a cena do disfarce na alfândega, ou a clássica prostituta com três seios.

Colin Farrel mostra ter sido uma boa escolha para o papel principal, a conversa entre o Quaid do passado e do presente. Jessica Biel também funciona no papel da heroína Milena, mantendo boa química com Farrel.

A mudança mais positivamente significativa é a personalidade de Lori, que aqui lembra uma Sarah Connor, de O Exterminador do Futuro, obstinada em atingir seu objetivo, mesmo que para isso tenha que desobedecer a ordens de seus superiores, criando uma antagonista realmente ameaçadora.

A direção de arte é muito bem executada, com a assepsia dos vagões do trem que percorre a Queda, a criação dos ambientes menos glamourosos da Federação, e o clima pós-apocalíptico (claramente inspirado em Blade Runner), da Colônia, conseguindo assim enfatizar o contraste entre as duas “civilizações”. 

Os efeitos visuais tem participação fundamental, sendo sempre bastante convincentes. A trilha sonora é bem equilibrada, nunca se sobrepondo ao que se vê na tela. Alguns efeitos sonoros deixam a desejar, especialmente nas cenas de luta.

Os elementos futurísticos são bastante criativos e realistas, como o celular implantado nas mãos, as telas digitais espalhadas por toda a cidade, as mini câmeras usadas pela polícia, os carros e rodovias até as armas, tanto de fogo como as não-letais.

Porém, alguns dos principais pontos fracos do filme (como de qualquer refilmagem) são: a permanente comparação com a obra original e o fato de sabermos o que acontece em algumas cenas-chave, além da expectativa de qual será o resultado final das alterações realizadas. Apesar das mudanças no roteiro, o filme manteve a essência do original, e foi além, incrementando as cenas de ação e obviamente, os efeitos visuais.

Mesmo com algumas pontas soltas, como as motivações de Cohaagen (Bryan Cranston) ou mesmo de Matthias (Bill Nighy), o filme é capaz de prender a atenção e divertir na mesma medida e com um resultado final superior ao original.

domingo, 19 de agosto de 2012

E aí, comeu?

E AÍ, COMEU?





David Arrais

     "E aí, comeu?" conta a história de três amigos Honório (Marcos Palmeira), Fernando (Bruno Mazzeo) e Afonso (Emílio Orciollo Neto) que sempre se reúnem no Bar Harmonia, sendo atendidos pelo seu garço favorito, que é "a cara do Seu jorge" (Seu Jorge) para conversarem sobre suas intimidades, e mais especificamente sobre suas conquistas sexuais/amorosas. 
   
     Cada um está num estágio diferente da vida: Honório é casado e pai de três filhas, porém tem começado  a perceber mudanças de comportamento em sua esposa (Dira Paes, no piloto automático, numa personagem incrivelmente chata). Fernando está passando por um divórcio e sua esposa está saindo de casa. E Afonso (ou Afonsinho, como ele faz questão de ser chamado) é um escritor frustrado/bom vivant, que vive às custas do dinheiro do pai, e assíduo frequentador das "casas de tolerância" do Rio de Janeiro.

     Mesmo com alguma profundidade, os personagens não provocam identificação com o público. O único arco dramático levemente trabalhado é o de Afonsinho, que apesar da superficialidade de como o tema é tratado (ele percebe ter uma vida vazia pela falta de amor), acaba sendo o único que gera real preocupação por parte do público. E também é dele o único par romântico interessante, com alguma profundidade.

     Bruno Mazzeo, apesar de engraçado, não é um bom ator, prejudicando todas as suas cenas dramáticas, na mesma medida em que brilha nas cenas cômicas. E Marcos Palmeira é quase inteiramente desperdiçado, servindo apenas de veículo para milhares de palavrões, exceto na cena em que dá uma "aula" para o público.
     
     Apesar de não manter o foco em apenas um dos protagonistas, o roteiro acaba soando episódico, com pouca interação entre as cenas, deixando a impressão de que foram pensadas isoladamente, apenas para explorar a veia cômica dos atores, sem a preocupação de contar uma história.
     
     Alguns personagens secundários também não são bem explorados, como o tio de Afonsinho (José de Abreu), dono de uma editora, a quem ele procura para publicar seu livro, que tenta explicar ao sobrinho a importância do amor com diálogos sofríveis, ou a bela porém desinteressante Gabi, jovem de 17 anos que acaba se tornando interesse romântico de um dos protagonistas.

     No entanto, outros coadjuvantes são sensacionais, como a linda Isabela, que, com sua inteligência, sempre coloca os amigos em situações constrangedoras, ou o "experiente" garçom Seu Jorge, que sempre tem uma aventura amorosa para compartilhar. E uma participação relâmpago, mas engraçadíssima, de Murilo Benício, que interpreta um publicitário amigo de longa data de Afonsinho. Também são dignas de nota as cenas com as moças que sempre ficam constrangidas com os comentários da mesa ao lado.

     Mesmo cumprindo seu objetivo principal, que é de fazer rir, o filme tem seu maior defeito em sua linguagem e formato. A sensação é que estamos assistindo a um programa de TV com uma duração maior, não Cinema.   

domingo, 5 de agosto de 2012

O Cavaleiro das Trevas Ressurge


O CAVALEIRO DAS TREVAS RESSURGE
David Arrais

     Medo, caos, loucura, violência. Mais uma vez, Christopher Nolan não nos decepciona. Em o Cavaleiro das Trevas Ressurge ele traz todos os ingredientes presentes nos dois primeiros filmes da série, potencializando-os, e encerra sua visão do mundo sombrio do homem Morcego, ainda que com alguns problemas, de forma grandiosa.

     Já se passaram oito anos desde a morte de Harvey Dent, evento que foi usado pelas autoridades para criarem o Ato Dent, que ajudou a quase destruir o crime Organizado em Gotham City. Por ter assumido a culpa de seu assassinato o Batman está agora inativo, ao mesmo tempo em que seu alter-ego, Bruce Wayne (Christian Bale), está de luto pela morte de sua amada, Rachel Dawes, apesar dos apelos de seu fiel mordomo Alfred (Michael Caine, simplesmente brilhante) para que retorne à sua vida “normal”.

     É neste universo, de uma Gotham pacificada, que surge o misterioso e ameaçador Bane (Tom Hardy), um mercenário que foi banido da Liga das Sombras por Ra’as Al Ghul (Liam Neeson) e a gatuna Selina Kyle (Anne Hathaway), ladra profissional, especializada em roubo de joias.

     Enquanto isso, o comissário Gordon (Gary Oldman), enquanto resolve seus problemas com o chefe de polícia Foley (Matthew Modine) tem um novo pupilo na força policial, o jovem e idealista Blake (Joseph Gordon-Levitt), que cresceu no orfanato mantido pela fundação Wayne, e que não se conforma com a versão oficial da morte de Harvey Dent.

     Diante de tantos personagens, a maioria novos, a história acaba tendo que ser desenvolvida em várias subtramas, sendo quase todas igualmente eficazes e bem amarradas.

     A subtrama que envolve Bane e suas ações, é muito bem desenvolvida, nos levando a conhecer a fundo aquele personagem, seu plano e de onde vem seu desprezo pelo Batman e seu ódio pela cidade.

     Dentre as demais subtramas, a mais interessante é a que envolve Blake e o comissário Gordon. Desde o início, Blake vê no experiente policial um exemplo em quem tenta se espelhar. Ele também estabelece uma conexão fundamental com Bruce Wayne, protagonizando um dos monólogos mais interessantes da trilogia.
                
     O único personagem desinteressante é Miranda Tate (Marion Cotillard), que tem papel fundamental na história, porém é mal desenvolvido, sofrendo reviravoltas que lembram um pouco às “surpresas” das últimas produções de Shyamalan. Compreendo sua importância no universo dos quadrinhos, mas aqui, não convenceu.
       
     No campo das atuações, todos estão extremamente convincentes. Christian Bale consegue transmitir toda a dor (física e emocional) de Bruce Wayne, desde seus momentos de luto às provações pelas quais tem que passar para seu “ressurgimento”.  

     Michael Caine rouba a cena sempre que aparece, especialmente no momento mais emocionante do filme, em que demonstra que mais do que o fiel escudeiro do Cavaleiro das Trevas, sempre foi o verdadeiro pai de Bruce Wayne.  

     Anne Hathaway está excepcional como a sensual e misteriosa Selina Kyle/Mulher-gato (mas não superou a Mulher-gato de Michelle Pfeiffer).

     Já Tom Hardy, consegue criar com Bane um vilão ainda mais assustador do que o Coringa de Heath Ledger. É a primeira vez que realmente tememos pelo destino do Homem Morcego. Ele se coloca como um adversário à sua altura, estando sempre um passo à sua frente. Além de impressionar pelo seu porte físico, o tom de suas falas (apesar de modificadas eletronicamente), é sempre ameaçador, variando sempre entre a ironia e o desprezo por aqueles que enfrenta.

     Mesmo os personagens com pouco tempo em tela são interpretados com competência, como o Dr. Pavel (Alon Aboutboul), físico nuclear que é parte fundamental no plano de Bane, o corrupto Dagget ou o prefeito de Gotham. Há ainda alguns personagens que estavam presentes nos dois primeiros capítulos (que não posso revelar para não estragar as surpresas) que completam o elenco de forma magistral.

     Do ponto de vista técnico, o filme é impecável. Desde os efeitos sonoros das cenas de ação e combate, quanto à fotografia sombria e a trilha sonora, que sempre reforça as emoções do que está acontecendo na tela, mas sem nunca se sobrepor ou chamar mais atenção do que o necessário.

     Algo que chama a atenção no projeto é a sua escala. Se em “O Cavaleiro das Trevas” estávamos sempre apreensivos pelos atos do Coringa, sempre direcionados a indivíduos, aqui o temor é generalizado. Não existem, além do Batman, alvos únicos. Toda a cidade está sob constante ameaça, chegando ao seu ápice no momento em que, numa tensa sequência em plano geral, vemos Gotham ser atacada em dezenas de pontos simultaneamente.

     Apesar de apresentar alguns furos de roteiro, que podem facilmente ser relevados, desde o início é possível perceber o maior problema do terceiro filme: O Cavaleiro Das Trevas. Depois de executar de forma tão perfeita o segundo ato da trilogia, Nolan deixou a expectativa muito alta. Porém, é inegável que encerrou a sua obra do Cavaleiro das Trevas de forma grandiosa, mantendo o mesmo nível de todos os trabalhos de sua carreira.