segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

LINCOLN






LINCOLN
David Arrais

 

Escrito por Tony Kushner, a partir do livro de Doris Kearn Goodwyn, Lincoln faz um recorte minucioso na história do presidente durante a Guerra Civil, indo do fim de seu primeiro mandato até o atentado que levou à sua morte, com um enfoque em seus dramas familiares enquanto descreve o processo corrupto necessário para a aprovação da lei de abolição da escravatura nos Estados Unidos.

Com um início promissor, mostrando alguns momentos terríveis da Guerra da Secessão, o filme logo passa para uma atmosfera intimista, mostrando o protagonista (Daniel Day Lewis) conversando com soldados negros que lutam pelo exército do Sul.

Desde essa primeira cena, com um foco de luz “magicamente” focado sobre ele, é possível perceber o modo como Lincoln será retratado. É visível a preocupação em retratá-lo quase como uma entidade, sempre em planos que o valorizam, colocando-o em posição de superioridade.

O filme tem grandes alternâncias de ritmo. Por exemplo, o modo como é mostrado todo o processo de “convencimento” dos congressistas do partido democrata é bem executado, possuindo os melhores momentos da projeção, com muito dinamismo.


Já nos momentos em que retrata os dramas familiares de Lincoln, o clima vira quase novelesco, em que vários problemas antigos são repetidos à exaustão pela sua esposa Mary Todd (Sally Field). 

Infelizmente, aquele que deveria ser o clímax do filme é prejudicado pelo simples fato de sabermos o resultado final daquele processo.


Daniel Day-Lewis no entrega mais uma performance impecável. Lincoln aparece como uma figura austera, que impõe respeito pela sua postura, mais que pelo seu avantajado porte físico. Os pequenos detalhes, como modo de mexer as mãos enquanto fala, ou a forma que manuseia os óculos, além de sua inflexão de voz, sempre mansa e calma, enriquecem mais um personagem marcante de sua carreira.

Sally Field alterna entre o dramalhão novelesco e uma atuação realmente marcante. Quando ela escapa dos momentos “Helena de Manoel Carlos”, como no momento em que questiona Lincoln por um fato marcante no passado, fica justificada sua indicação ao Oscar de Atriz Coadjuvante.

David Strathairn interpreta William Seward, o principal aliado de Lincoln, porém sem precisar exibir seu talento como em outros momentos da carreira. Ao contrário de Tommy Lee Jones, que surge como um personagem ambíguo, responsável pelos poucos momentos de tensão do longa. James Spader (que volta aos cinemas depois de oito anos) surge como uma grata surpresa, como o mensageiro responsável por conseguir as assinaturas necessárias para que a lei seja aceita no congresso. 

Completando o núcleo principal, Joseph Gordon-Levitt é completamente desperdiçado, parecendo surgir como uma assinatura do item “conflito com a figura paterna”, sempre presente na carreira de Spielberg.


Algo que chama a atenção é a semelhança entre o processo de convencimento dos democratas e eventos recentes na história política brasileira, em que o presidente, e seus assessores, se utilizam de meios espúrios para a aprovação de seus projetos.


Tecnicamente o filme tem vários pecados. Apesar de uma boa fotografia, direção de arte bem executada numa perfeita recriação de época e figurinos minuciosamente caprichados, a montagem é extremamente deselegante, com cortes grosseiros, e sem ritmo, com um resultado final beirando o enfadonho.

Infelizmente, esta última produção de Steven Spielberg nem de longe faz jus à brilhante filmografia do diretor. Baseando-se quase que completamente na atuação perfeita de Daniel Day-Lewis, ele nos entrega uma obra menor, sem ritmo e que tenta mostrar o 16º presidente americano como um homem superior a todos os outros, tanto no campo político quanto no campo moral, mesmo quando suas atitudes muitas vezes mostram o contrário.

4 comentários:

  1. Concordo com tudo, incrível.
    Lincoln é quase um filme de um ator só. Parece que veio apenas para mostrar como o Daniel Day-Lewis pode ficar parecido com o cara.
    Além dele, o destaque ficou para o Tommy Lee Jones.
    Se não fosse o Christoph Waltz, estaria torcendo plenamente por ele no Oscar. Aliás, se ele ganhar, não vou achar ruim.

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  2. Valeu Mônica. E ainda ficou o sentimento de decepção no fim, pela expectativa que eu criei...

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  3. Concordo que o ritmo oscila sim, mas achei que o saldo final foi positivo. Sally Field tava no contraponto do personagem pra mostrar que ele, ao contrário do que pudesse parecer, tinha defeitos e podia agir de maneira duvidosa frente a questões familiares importantes.

    O desenrolar da trama, mastigadinho, descrevendo detalhadamente as armações e estratégias me agradou bastante também, já que eu não sabia nada dos trâmites políticos. Quanto ao climax, nao achei que foi ofuscado pelo conhecimento geral de como terminaria (fosse assim, adeus filmes históricos).

    Tem defeitos? Tem. Mas acho que o David dormiu demais no filme pra carregar numa opinião tão negativa.

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  4. Eu reassisti ao filme pra poder escrever a crítica, ô engraçadinho. E não são todos os filmes históricos que perdem seu clímax por sabermos o fim, mas, aqui eu senti que ocorreu isso.

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