terça-feira, 11 de dezembro de 2012

A Origem dos Guardiões


A ORIGEM DOS GUARDIÕES (Rise of the Guardians)
David Arrais

Depois de “filmes” como A Garota da Capa Vermelha, A Branca de Neve e o Caçador e A Fera, sempre que alguém fala em reinvenção de personagens infantis ou de contos de fada, o medo de que ocorra mais uma “Crepusculação” vem à tona em doses cavalares.

Felizmente, a nova animação da Dreamworks, A Origem dos Guardiões além de um divertidíssimo conto de fadas, nos leva também a questionamentos maiores, como “Qual o nosso lugar no mundo”, sem nunca perder o ritmo e o clima fantasioso.

Neste filme, primeiro trabalho do diretor Peter Samsey para o cinema, os personagens das grandes mitologias infantis, Papai Noel, Coelho da Páscoa, Fada do Dente e Sandman (entidade responsável pelos sonhos, sem equivalente ou relevância na cultura brasileira) precisam da ajuda de um novo guardião, Jack Frost, para enfrentar o Bicho Papão, que quer causar a descrença das crianças nesses seres, na época da Páscoa.

          A caracterização dos Guardiões é muito criativa, fugindo do estereótipo que existe no imaginário popular. Papai Noel é um homem forte, tatuado, quase intimidador, que conta com a ajuda de Yetis e dos elfos na fábrica de brinquedos. A Fada do Dente é uma workaholic, sempre preocupada com o trabalho das fadinhas em seus depósitos. O Coelho da Páscoa é um guerreiro musculoso, valente e sem papas na língua, responsável pelo mundo encantado onde são feitos os ovos de páscoa. A sua falta de tato também acaba por criar conflitos com quase todos os guardiões. Sandman tem feições infantis, sendo composto da mesma areia que utiliza para construir os sonhos.

      Jack, além de protagonista, também é o personagem mais interessante e complexo. Ele é o responsável pelo inverno e se é feliz com isso, porém, não se sente completo. Primeiro por não ser reconhecido pelas crianças como os demais, e também por não entender suas motivações. Os motivos que o levaram a assumir aquela posição, até se tornar um guardião.

         Já o Bicho Papão acaba por se tornar um vilão igualmente interessante, com motivações intensas, palpáveis, familiares, o que gera uma identificação com o público. Os seus confrontos com Jack são sempre intensos, tanto de forma física como verbal, pois os dois dividem dramas pessoais semelhantes.

      O desenvolvimento da história segue sempre sem perder o ritmo, mesmo em momentos com muitos diálogos, alternando o clima leve de fantasia com momentos tensos, mas também com inserções cômicas, como a transformação do Coelho da Páscoa, o trabalho nem sempre reconhecido de um dos Yetis, e os momentos em que o Sandman, que não fala, perde a paciência por não receber a devida atenção, ou a corrida pelos dentes, que culmina na divertidíssima briga pelo dente de Jamie.

     Jamie, inclusive, é o principal dos personagens humanos, que são sempre crianças, e possui participação fundamental no terceiro ato, uma vez perpetuação da crença infantil é fundamental para a existência dos Guardiões.

        O filme ainda conta com citações sutis de grandes filmes como Star Wars (o momento em que o trenó do Papai Noel chega à terra da Fada do Dente é muito parecida com a chegada da Millenium Falcon a Alderaan), O Senhor dos Anéis, Hércules (a fisionomia do bicho Papão é semelhante à de Hades) entre outros. A Direção de Arte realiza um trabalho fantástico, com a construção dos mundos mágicos liderados por cada guardião. Os efeitos 3D são grandiosos, não sendo usados apenas para arremessar objetos no espectador, mas conferem a emoção e profundidade necessária a cada cena. A trilha sonora de Alexandre Desplat é incrível, construindo um tema marcante (como eu não via desde Os Incríveis) que se repete sem ser monótono, variando de ritmo de acordo com a emoção que é retratada em cada cena.

Infelizmente, nem tudo são flores. O filme possui dois furos no roteiro, sendo que um deles prejudica bastante o desfecho da trama, com o reaparecimento de um personagem sem nenhuma explicação.

          Mas, apesar desses problemas, não nada que prejudique a mensagem que o filme quer passar: A melhor maneira de sermos felizes é descobrirmos a nossa função no mundo, e aprendermos a aceitá-la.  

P.S.: Quem me conhece, sabe o que penso sobre dublagem, mas tenho que dar o braço a torcer. O trabalho de dublagem é simplesmente sensacional.

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